quinta-feira, 17 de maio de 2012

Filosofia da Educação


A filosofia da educação é um ramo do pensamento que se dedica à reflexão sobre os processos educativos, à análise do(s) sistema(s) educativo(s), sistematização de métodos didáticos, entre diversas outras temáticas relacionadas com a pedagogia. O seu escopo principal é a compreensão das relações entre o fenômeno educativo e o funcionamento da sociedade. São várias as teorias educacionais "tradicionais" e "progressistas".
A filosofia educacional de Platão foi baseada em sua visão da República ideal, onde o indivíduo era mais bem servido ao ser subordinado a uma sociedade justa. Ele defende remover as crianças dos cuidados de suas mães e cuidar delas através do Estado, com grande cuidado para diferenciar as crianças adequadas para as várias castas, a maior delas recebendo a melhor educação, para que elas possam agir como guardiões da cidade e cuidar dos menos aptos. A educação seria holística, incluindo fatos, habilidades, disciplinas físicas, e música e arte, que ele considerava a maior forma de esforço.
Platão acreditava que o talento não era distribuído geneticamente e portanto deveria ser encontrado em crianças de qualquer classe social. Ele desenvolveu isso ao insistir que aqueles considerados aptos deveriam ser treinados pelo Estado para que fossem qualificados para assumir o papel de uma classe dominante. Isso estabelece, essencialmente, um sistema de educação pública seletiva baseada na premissa que uma minoria educada da população é, por virtude da sua educação, suficiente para uma governança sadia.
Os escritos de Platão contêm algumas das seguintes idéias:
A educação elementar deveria ser confinada para a classe guardiã até a idade de 18 anos, seguido de dois anos de treinamento militar compulsório e depois ensino superior para aqueles que estiverem qualificados. Enquanto que o ensino elementar moldava a alma para responder ao ambiente, o ensino superior ajudava a alma a procurar pela verdade que a ilumina. Tanto os meninos como as meninas recebiam o mesmo tipo de educação. Educação elementar consistia de música e ginástica visando treinar e misturar qualidades gentis e fortes nos indivíduos e criar uma pessoa harmoniosa.
Ao chegar aos 20 anos, é feita uma seleção. Os melhores receberiam um curso avançado em matemática, geometria, astronomia e harmônica. O primeiro curso na área de ensino superior duraria dez anos. Esse curso seria para aqueles que estão mais aptos para a ciência. Aos 30 anos seria feita uma nova seleção; os qualificados estudariam dialética e metafísica, lógica e filosofia pelos próximos cinco anos. Eles estudariam a idéia do bem e os primeiros princípios dos seres. Depois de aceitar uma posição júnior nas forças armadas por quinze anos, a pessoa teria completado sua educação teórica e prática aos cinquenta anos.

"Teoria dos dois mundos” defendida por Platão


Platão em seus estudos conheceu e se aprofundou nas teorias de dois dos maiores filósofos pré-socráticos, Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. Antagônicas entre si, Platão reconheceu certo acerto na filosofia de ambos os filósofos e procurou resolver o problema criando sua própria teoria.
De Heráclito, Platão considerou corretas as percepções do mundo material e sensível, das imagens e opiniões. Para ele, a matéria era algo imperfeito, em constante estado de mudança.
Concluiu, no entanto, que Parmênides também estava certo ao exigir que a Filosofia se afastasse desse mundo sensível, para ocupar-se do mundo verdadeiro, visível apenas ao puro pensamento.
Com um toque de seu mestre Sócrates, de quem Platão aproveita a noção de logos, está criada a teoria platônica e a distinção dos mundos sensíveis e inteligíveis.
Platão afirma haver dois mundos diferentes e separados:
  1. O mundo sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos;
  2. O mundo das idéias gerais (inteligível), "das essências imutáveis, que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos".
Platão, assim, tenta superar a oposição de Heráclito à mutabilidade essencial do ser e a posição de Parmênides, para qual o ser é imóvel, relacionando o mundo das idéias ao ser Parmênides e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.
Para explicar melhor sua teoria, Platão cria no livro VII da República o mito da Caverna, segundo o qual imagina uma caverna onde estão os homens acorrentados desde a infância, de tal forma que não podem se voltar para a entrada e apenas enxergam uma parede ao fundo. Ali são projetadas sombras das coisas que se passam às suas costas, onde há uma fogueira. Platão afirma que se um dos homens conseguisse se libertar e contemplar a luz do dia, os verdadeiros objetos, ao voltar à caverna e contar as descobertas aos companheiros seria dado como louco.
No mito podemos associar os homens presos à população e o homem liberto a um filósofo. Os homens presos conhecem apenas o mundo sensível, já o liberto conheceu a verdadeira essência das coisas, conheceu o mundo das idéias.
Marilena Chauí define o pensamento socrático, para quem "o mundo sensível é uma sombra, uma cópia deformada ou imperfeita do mundo inteligível das idéias ou essências".
O mundo material, assim, somente se torna compreensível através da hipótese das idéias, mas tal afirmativa deixa em voga um problema, já que a existência do mundo das idéias não basta a si mesmo. É necessário admitir um conhecimento das idéias incorpóreas que antecedem o conhecimento fornecido pelos sentidos, que por sua vez, somente alcançam o corpóreo.
Platão procura responder este problema no "Mênon", quando explica que o intelecto pode aprender as idéias porque ele é, também, como as idéias, incorpóreo. A alma, antes de prender-se ao corpo, teria contemplado as idéias com os deuses. Com isso Platão afirma a imortalidade.
Daí, no entanto, surge outro problema, que o próprio Platão levantou no diálogo "Parmênides".
Se a imortalidade liga a alma às idéias, como explicar o relacionamento entre as formas e os objetos físicos, entre o incorpóreo e o seu oposto, o corpóreo?
A relação entre as formas e os objetos físicos que lhe são correspondentes é a outra grande questão levantada por Parmênides. Platão procura resolvê-la através das noções de participação (por exemplo: um animal só é um animal enquanto participa da idéia de animal em si) e a de imitação, mas ele próprio cria diversas objeções a essas noções, muitas das quais serão usadas por filósofos posteriores, incluindo seu discípulo Aristóteles.

sábado, 12 de maio de 2012

Teoria da “Maiêutica” defendida por Sócrates:


Uma das contribuições de Sócrates é a de ter fornecido um método que permite que todos percebam que podem chegar a reconstruir os mesmos raciocínios de mentes como a de Pitágoras e Aristóteles.
Quando pensamos na contribuição dos grandes filósofos à história da filosofia podemos pensar nas diversas teorias que eles desenvolveram para resolver ou, pelo menos, tentar resolver os variados problemas com que cada um deles foi se defrontando. Pensando, a partir do último artigo, sobre as contribuições que, ao meu ver, alguns desses grandes filósofos clássicos fizeram, lembrei dos filósofos anteriores a Sócrates e me detive, perplexo, em Sócrates. Pois era muito fácil dizer para mim mesmo quais foram tais contribuições no caso dos pré-socráticos, assim como dos socráticos, particularmente Platão e Aristóteles. Mas não foi fácil fazer o mesmo com Sócrates. Com efeito, Tales, Anaximandro e Anaxímenes adiantaram teorias cosmológicas que, em muitos sentidos, antecipam, com suas brilhantes intuições, diversos resultados da ciência contemporânea. Tales, para começar, não estava equivocado quando dizia que a Terra flutua sobre água, pois, efetivamente, a crosta terrestre flutua no magma. Mais ainda, ele afirmava que os terremotos eram o resultado desses flutuar.
Seu discípulo Anaximandro, além de ter desenhado um mapa em que a região do Mediterrâneo é muito semelhante à dos mapas modernos, forneceu uma teoria sobre a origem da vida que mantém a tese de que os primeiros animais se originaram da umidade e que só depois buscaram a parte seca da terra. Anaximandro afirmava, ainda, que os seres humanos não poderiam ter sido sempre como eram naquela época (e como são hoje) — isto é, incapazes de tomar conta de si mesmos desde seu nascimento —, porque se sempre tivessem sido assim, nunca teriam sobrevivido na natureza, à diferença de animais que desde que nascem podem tomar conta de si mesmos e sobreviver sem ajuda dos pais.
Anaximandro disse, também — o que não deixa de resultar surpreendente —, que os primeiros humanos nasceram dentro de peixes, e que, tendo sido alimentados como tubarões, começaram a estar em condições de sobreviver por si mesmos e se dirigiram à terra para nela viver. Não há, contudo, nenhuma alusão a um processo evolutivo, e é falso pensar que Anaximandro pensou tal processo em termos darwinianos ou que Charles Darwin tenha se inspirado em Anaximandro para desenvolver sua teoria. Nenhuma coisa nem outra. Mas, mesmo assim, não deixa de ser interessante perceber que já na época dos antigos gregos adiantavam-se hipóteses sobre o homem não ter sido sempre como era e que em tempos remotos devia ter sido completamente diferente.
A teoria de Anaxímenes, segundo a qual por condensação e rarefação o ar se nos converte outros elementos (água, terra e fogo), é de uma simplicidade e de uma profundidade de tirar o fôlego. Xenófanes nos surpreende com uma teoria que aponta ao antropomorfismo do conhecimento e em Heráclito e em Parmênides encontramos duas teorias metafísicas decisivas para a história da filosofia. Não podemos esquecer as contribuições para a matemática de Pitágoras nem a antecipação de o universo ser composto de partículas, o que é um legado de um processo que começa em Empédocles e Anaxágoras e termina em Leucipo e Demócrito, com a teoria dos átomos.
As diversas teorias dos antigos filósofos, em resumo, são surpreendentes pela antecipação à teorias modernas e contemporâneas e por sua proximidade da verdade. Não preciso falar das contribuições de Platão nem, pior ainda, das de Aristóteles, a mente que até pouco tempo estava por trás de todas as ciências conhecidas. O fato de terem errado nisto ou naquilo é de somenos importância. Importa ver o alcance e profundidade de suas intuições e a quantidade enorme de problemas que perceberam e, em muitos casos, legaram para nós ainda ter de discuti-los. Mas, justamente, pensando em tudo isso cheguei a me perguntar: e Sócrates… qual são mesmo seu legado e sua contribuição?
A pergunta não deixa de ser pertinente porque, à diferença de todos os grandes filósofos de quem posso me lembrar Sócrates não escreveu uma página nem defendeu teorias, como todos os pensadores mencionados. Em que consiste, então, sua contribuição à filosofia?
A resposta pode estar numa história que ele mesmo conta e que seu discípulo, Platão, registrou para a posteridade. Sócrates conta que um amigo seu foi ao oráculo em Delfos e lhe fez esta pergunta: há alguém mais sábio que Sócrates? O oráculo respondeu que não, que não havia ninguém mais sábio do que ele. Quando Sócrates ficou sabendo disso ficou perplexo, pois sabia que não era nem um Pitágoras nem um Tales, nunca tinha escrito uma página nem tinha defendido teorias sobre o assunto que for. Para demonstrar que o oráculo estava errado, ou corroborá-lo, Sócrates se viu na necessidade de ir e procurar todos os homens que, na época, se diziam sábios. E foi questionando-os um por um sobre o assunto em que se diziam sábios.
O resultado dessa série de conversas com os pretensos sábios foi que nenhum deles o era de fato. Que se achavam sábios, mas não eram. Chegar a essa conclusão era simples para Sócrates porque, em todos esses diálogos, eles sempre se contradiziam e terminavam afirmando o oposto do que começavam mantendo. À diferença deles, Sócrates não dizia que sabia, e aí estava sua grande vantagem. Ele era ciente de sua ignorância: sabia que nada sabia. Isso, de por si, já é uma atitude digna de admiração, porque não é a que costumamos encontrar entre algumas pessoas. Mas o interessante é que para produzir o resultado negativo ao qual chegavam, Sócrates precisava dominar um método discursivo. Esse método é a maiêutica.
A palavra originalmente designa a arte da parteira. A mãe de Sócrates tinha sido parteira e Sócrates pensava que era isso que ele fazia com seus interlocutores: os fazia dar à luz idéias. Em Sócrates, esse método discursivo, sua maiêutica, tem um resultado negativo, a contradição. Nas mãos de Platão, o mesmo método é empregado para que o interlocutor chegue a resultados positivos e perceba que ele mesmo infere conclusões verdadeiras sobre os assuntos discutidos. Como método pedagógico é, penso insuperável. Platão emprega esse método para fazer um escravo demonstrar o teorema de Pitágoras (aquele segundo o qual o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos).
Bem, nestas duas últimas semanas tenho feito exatamente isso com meus alunos, em duas turmas diferentes, os alunos, sem saber o que estavam fazendo com as figuras que eu tinha desenhado no quadro, só mediante minhas perguntas e sem eu dar as respostas, chegaram à conclusão daquela equivalência. Só quando eu expressei a equivalência nos termos do teorema é que perceberam o que tinham feito. Em outras duas ocasiões, também, duas alunas, em turmas diferentes, resolveram uma das aporias de Zenão, uma que fora resolvida por Aristóteles na sua Física (obra em que o filósofo de Estagira afirma serem tais aporias muito difíceis de resolver). Aquilo de eu ter logrado mostrar aos meus alunos que podem, com suas próprias mentes, recriar o mesmo tipo de raciocínios que passaram pelas mentes de filósofos como Pitágoras e Aristóteles, é um feito que devo a Sócrates e a Platão ou, então, à maiêutica socrática na sua versão platônica. Com isso posso insinuar uma conclusão aos meus alunos: é filósofo, não quem diz que sabe, mas quem demonstra que sabe pensar por si só.

Prática Educacional voltada para Intersubjetividade


No contexto da filosofia contemporânea, as dificuldades decorrentes da adoção do modelo epistemológico, baseado no pressuposto representacionista que leva a um estilo “pedagogizador”.
Ao fazermos propostas para uma filosofia da educação consistente e produtiva, mostraremos os desafios que a superação desse modelo implica. Nós o chamamos de “pedagogizador” porque ele se resume a instruir reproduzir conhecimento, ater-se a regras normalizadoras. Seu suporte é a consideração de que há dois fatores estanques em todos os processos em que algum tipo de conhecimento seja requerido: um sujeito de conhecimento de um lado, e uma realidade a ser conhecida de outro.
A conseqüência para a educação, bem como em termos de propostas pedagógicas, é a restrição à aplicação de técnicas a um sujeito, o aluno, tratado como objeto a ser conhecido e treinado. Em contraposição, propomos analisar um modelo calcado na intersubjetividade, mais apto a conduzir para a educação, entendida num sentido construção de pessoas emancipadas, criativas, autônomas. Chamamos este modelo de “modelo educacional”. Mas não consideraremos que diálogo, intersubjetividade, modelo comunicativo, etc., bastem. Será ainda preciso mostrar seus pressupostos teóricos, as implicações decorrentes, e principalmente, como ele pode ser aplicado, aliviando as dificuldades pelas quais passa nossa sociedade, sendo o papel da educação central para compreender essas dificuldades e propor mudanças. Este é um processo complexo, e, evidentemente, a própria educação, especialmente a educação formal, escolar, precisa ser revista com urgência.
A escolha do tema e os propósitos deste trabalho decorrem diretamente da importância social, política, econômica e ética de uma reflexão sobre os rumos da educação na sociedade complexa contemporânea, especialmente em países como o nosso, reflexão esta que, se feita nos moldes do paradigma pragmatista, representam o ar, a crítica, a liberdade de opinar, propor, agir justificadamente, o que leva a fazer crescer e transformar pessoas pela educação.

Método Pedagogizador


Resume-se a instruir, reproduzir um tipo de conhecimento que não é relevante para as reais necessidades do aluno.
Essa postura de educação está a serviço de uma sociedade mercadológica e tecnocrática. Daí as propostas pedagógicas estarem direcionadas a uma aplicação de técnicas a um sujeito, o aluno, tratado meramente como um objeto a ser conhecido e treinado para atender as exigências do mercado. Esse modelo de educação tem sido pensado como um dos maiores desafios da contemporaneidade, e os seus críticos vêm tentando superar o estilo “pedagogizador” da educação.
Partindo daquele pressuposto de Habermas de que potencialmente todos os membros de uma sociedade têm condições de exercitar sua capacidade comunicativa, faz-se necessário perguntar se a educação tem estimulado essa capacidade. Digamos que, lentamente, ela vem se constituindo sob um novo discurso pautado pela transformação. Mas ainda caminha sob a sombra do modelo “pedagogizador”, uma vez que não basta somente mudar o discurso, é preciso efetivar os discursos mediante a ação comunicativa. No Brasil, os desafios são ainda maiores, porém contornáveis se forem adotados políticas educacionais adequadas.
Para inverter o modelo de educação pautado pelo estilo “pedagogizador”, torna-se necessário fazermos propostas para uma educação mais consistente e comprometida com uma efetiva emancipação do sujeito. Dessa forma, acreditamos que uma prática pedagógica associada à Teoria da Ação Comunicativa proposta por Habermas pode contribuir para um pensar crítico em prol de uma educação voltada para a formação do sujeito emancipado, sensível e ético.
Embora Habermas não tenha elaborado uma Filosofia da Educação, podemos identificar em seu pensamento uma visão a respeito da educação. As idéias habermasianas a respeito da linguagem, do conhecimento e da ética podem abrir novas perspectivas para a educação em termos de uma filosofia da educação que possa suscitar nos sujeitos dotados de competência interativa a capacidade de questionar o sistema de normas que vigora na sociedade.
O modelo pedagogizador segundo Foucault:
Os teóricos que seguem a linha de um pragmatismo à la Nietzsche afirmam ser possível nos tornarmos melhores pela linguagem, pela conversação, abertos à proliferação de idéias e projetos interconectados, sem exigir comensuração ou validade transcendente ao contexto histórico. Mas a situação na qual nos encontramos exige antes uma análise acurada. As chamadas filosofias representacionistas estão ligadas à idéia de que a mente apreende a realidade. Ao refletirem sobre as capacidades do pensamento e da razão o vê unicamente como reflexo especular da realidade. A partir de Kant a razão é chamada para organizar o caos da experiência. As formas puras a priori da razão permitem conhecer os fenômenos, não podemos conhecer o que as coisas são em si mesmas. As filosofias do sujeito analisam o homem simultaneamente como pertencente a uma história, tendo um corpo, como podendo conhecer por meio desta história, aquilo que ele é. Assim, o material recolhido empiricamente passa a ser dotado de valor transcendental.
Ora, segundo Foucault em As Palavras e as Coisas, tomar o empírico como transcendental é um retorno ao estilo de pensamento pré-kantiano, ingênuo. Não percebe que o material coletado na história para explicar o homem não pode ser transcendental, visto que é histórico. O modo de sairmos das dificuldades da fenomenologia, do positivismo e do marxismo, que são filosofias do sujeito, é mostrarmos que o pensamento humano é cultural e historicamente marcado. Que as categorias para pensar o ser humano são elas próprias humanas, construções nossas, históricas. Desta forma, é preciso analisar a educação como prática, com fundo histórico, com usos bem determinados. São as necessidades que as diversas instituições têm de modificar suas funções em consonância com as mudanças mais amplas nos fatores sociais, econômicos e culturais, que mostram como a educação, ao se escolarizar na modernidade, passou a exercer um papel de controlador e adaptador daquelas necessidades. E elas são, grosso modo, tanto necessidades técnicas (aprender ofícios e funções) como necessidades operatórias, estratégicas, ou como mostrou Foucault, disciplinares, fruto do tipo de sociedade que, desde fins do século XVIII, vem reforçando práticas que distribuem saber e poder por todo o corpo social, especialmente por instituições em que o indivíduo precisa ser curado, examinado, treinado, exercer ofícios.
Dentre as conseqüências negativas do modelo técnico/cientificizante, proveniente da sociedade moderna tecnicizada, está o indivíduo treinado, pedagogizado. Neste sentido, a escola funciona como operador de pedagogização, pois reúne a capacidade de habilitar com recursos educacionais básicos a criança e o jovem, com a capacidade de fornecer os mecanismos e instrumentos pedagógicos que asseguram obediência, responsabilidade, prontidão, docilidade, adaptabilidade.
Esses mecanismos e instrumentos são, por exemplo, a fila, a carteira, o treino para a escrita, os exercícios com dificuldades crescentes, a repetição, a presença num tempo e num espaço recortados, a punição pelo menor desvio de conduta, a vigilância por parte de um mestre ou de um monitor, as provas, os exames, os testes de aprendizagem e de recuperação, o treinamento dentro de padrões e normas fixos. E mais, os resultados dos esforços pedagógicos sendo permanentemente avaliados por critérios também eles padronizados, leva a uma simples análise de boletins, que sirva para medir os casos que desviam, portanto, serve para marcar, excluir, normalizar.